terça-feira, 30 de março de 2010

Marcha


Passo a passo
vão passando
as pessoas
por caminhos penosos.

Uns com passo firme
uns com passo frouxo
uns com peito inchado
outros usam bojo.

Mas sempre no ritmo,
ritmo da vida.
Passo, passada, pisada.
Como os pensamentos,
como vêm e vão,
como vêm em vão,
os amores.

Quem toca tambor,
toca bem também
sua teimosia:
Não mato, não morro,
mas tento acertar
a alma de tudo.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sofá


Ver a vida através da tela.
Distante, de fora, de longe,
de onde se é invulnerável.
De lá,
de dentro do palácio do julgamento.

Ah! Doce dádiva...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Onde


Pago minhas contas
faço minhas compras
ato minhas pontas
falo com as sombras.

Vivo de teima
morro de tédio
morte que queima
da vida o assédio.

Caos
Caos
Caos

Donde não surge
de onde mais se urge:
resposta pura
pergunta nua

crua
cura
para
sua
fúria.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Comecei do meio


Comecei do meio,
que será de mim?
Acabei com medo
de encarar o fim.

Curiosidade mata.
Mata morrer curioso.
Se o começo é mistério,
o fim é monstruoso.

Mas, se ao menos dessem
um destino à sorte,
talvez não tivesse
tal temor à morte.

terça-feira, 16 de março de 2010

Arco Íris

O arco-íris cortante rasga o céu.

Mal o vê a mulher de vermelho,
mas se vê no espelho
achando se enxergar.

Não o vê o homem sem sonhos.
Há muito mal sabia o tom do céu,
nem que o céu era todo seu.

Não o sente o guri sob o Sol.
Criança que sofre quando o verde cruel
degreda a esperança.

Não o devora o avô, que toma a vergonha azul
de um vasto arco-íris de remédio.
Agora! decide entre morrer, ou morrer de tédio.

A mulher de vermelho passa uma sombra anil
sonhando com o homem sem sonhos.
O guri sorri ao mesmo tempo que as lágrimas gritam.
O avô não decide pelo tédio, desejando que o céu seja violeta.

O arco-íris cortante rasga o céu.